As florestas amazônicas estão se tornando cada vez mais fragmentadas pelo desmatamento e pelo fogo. Os cientistas há muito procuram entender se as florestas degradadas podem manter importantes funções do ecossistema, como capturar carbono da atmosfera para reduzir o aquecimento global, preservar o ciclo da água para manter as chuvas e temperaturas baixas e preservar a biodiversidade.
Um dos maiores e mais longos experimentos sobre os efeitos da fragmentação florestal foi iniciado em 1979 na Amazônia Central (perto de Manaus, Brasil) por uma equipe de cientistas liderada pelo pioneiro biólogo conservacionista Thomas Lovejoy, que faleceu em dezembro passado. Para o “Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais” (BDFFP), Lovejoy e colegas trabalharam com agricultores locais – que estavam desmatando a floresta para a pecuária – para que uma série de fragmentos florestais ficasse intacta. Centenas de artigos científicos já foram publicados a partir do projeto, contribuindo para nossa compreensão dos efeitos da fragmentação do habitat nas florestas tropicais e sua capacidade de persistir e sustentar a biodiversidade. Um novo estudo publicado na Nature Communications e liderado por pesquisadores da Universidade de Helsinque, em cooperação com cientistas de todo o mundo, usa uma nova abordagem para quantificar os impactos da fragmentação na fenologia das plantas. O estudo mostra os eventos anuais do ciclo de vida das plantas, desde a brotação e a expansão das folhas até a queda das folhas e galhos. Medições detalhadas usando um LiDAR terrestre terrestre permitiram aos pesquisadores rastrear como diferentes camadas da floresta são afetadas pelas mudanças nas condições ambientais causadas pelo clima e pela fragmentação.
Fotos históricas do "Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais" na Amazônia Central,
estabelecido em 1979. O projeto é um dos maiores e mais antigos experimentos do mundo para
entender os efeitos da fragmentação florestal nos ecossistemas florestais. Crédito da foto: Richard
Bierregaard.
Os efeitos do aquecimento nas florestas amazônicas
Se as emissões muito altas de gases de efeito estufa (GEE) e CO2 dobrarem em relação aos níveis atuais até 2050, as temperaturas máximas na Amazônia provavelmente ultrapassarão 35ºC pelo menos 150 dias por ano até o final do século, de acordo com o Sexto Relatório de Avaliação do IPCC.
O estudo publicado na Nature Communications explica por que isso é uma má notícia para a floresta amazônica. O estudo mostra que árvores altas na Amazônia Central são impactadas por temperaturas máximas do sub-bosque acima de 35 graus.
Agosto e setembro costumam registrar temperaturas máximas muito altas, acima de 35ºC em muitas regiões da Amazônia. As copas das florestas estruturalmente intactas geralmente amortecem as altas temperaturas observadas no sub-bosque até certo ponto. No entanto, quando as temperaturas do subbosque atingem 35 graus, as árvores altas perdem suas folhas e galhos.
– Se o número de dias registrando essas temperaturas muito altas dentro das florestas também aumentar, poderemos ver que as árvores altas sofrerão consideravelmente, diz o pesquisador de pósdoutorado Matheus Nunes, principal autor do estudo.
Florestas na Amazônia Central. Crédito da foto: Matheus Nunes
A “respiração” da Terra está em fluxo
Nas florestas tropicais, ainda há muitas incertezas no momento e nas causas de eventos sazonais, como queda e explosão de folhas. Compreender esses padrões é crucial para entender como os ecossistemas tropicais responderão às mudanças climáticas.
– Projetamos um experimento usando pesquisas repetidas usando um moderno scanner a laser para investigar a dinâmica sazonal das florestas amazônicas, diz Eduardo Maeda, coordenador do projeto financiado pela Academia da Finlândia.
Nas últimas décadas, tem havido um debate se as plantas na Amazônia são mais limitadas pela luz ou pela água. Este estudo fornece evidências de que o problema é mais complexo, pois demonstrou uma alta variabilidade nas camadas verticais da floresta. Em outras palavras, as árvores que ocupam as camadas inferiores, ou estratos, foram mais limitadas à luz, enquanto as árvores altas que ocupam
os estratos superiores foram mais afetadas pelas variações climáticas.

Fragmentação florestal
Para complicar ainda mais, o estudo mostra que o desmatamento na região exacerba os efeitos negativos do aquecimento.
–Os remanescentes florestais pequenos e fragmentados tendem a ter temperaturas mais quentes no sub-bosque, devido à maior penetração de luz na floresta, diz José Luís Camargo, coautor do estudo e diretor do “Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais”, o estudo mais antigo da fragmentação de habitat e localizado na Amazônia Central.
As temperaturas mais quentes nesses fragmentos florestais remanescentes aumentarão a pressão sobre as árvores altas, o que fez com que as árvores perdessem suas folhas e galhos por um tempo prolongado.Atualmente, estima-se que 176.555 km2 de florestas amazônicas (uma área superior ao tamanho do estado do Acre) estejam sob influência de efeitos de borda. Se o desmatamento continuar e as florestas se tornarem mais fragmentadas, provavelmente veremos consequências graves e uma mudança em grande escala na forma como os ecossistemas tropicais respiram.
